quinta-feira, 1 de julho de 2010

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Apesar de todo o receio, os cuidados não foram suficientes. Imaginando a fragilidade de um coração e encaixando-a em você, não fui ainda capaz de não ferir. Imaginando o meu coração esmagado e frio pelas cicatrizes, não consegui sentir o calor daquelas batidas.
Assumindo que em mim começava a passar uma nova corrente de carinho, quis entregar-me novamente aos sentimentos. Pouco a pouco, passo a passo, acreditei entrarmos na mesma sintonia. Ruídos exteriores não mais me impediam de sonhar, de acreditar que daria certo. Cada dia era pouco e muito ao seu lado.
A noite simbolizava a agonia, a espera eterna, o anseio. E outra vez lá estava você. Aquela expressão séria. Meu deus, como queria saber o que se passava naquela cabecinha. Percebi que não mais consegui fazê-lo sorrir, ou acreditei piamente nisso pelo número de vezes que você sorria e brincava com outro alguém, deixando-me em segundo plano. Invadida por ciúmes, tinha surtos e começava a escrever, mas logo amassava aquelas palavras. Não me agradava a idéia de paralisar o meu desespero. E lembrava-me da sua liberdade, e minha conseqüente raiva por estar cada vez mais presa a você.
Quanto desejei desaparecer ou tudo que estivesse ao meu redor explodisse não sei, mas tomou muito do meu tempo. Penalizava-me pelo desejo e me deleitava na sua presença. Ódio e amor. E assim foi seguindo...
Tudo em mim queimava, era muito forte, demais para mim. Chegava a pensar que, em algum momento, algum dos dois teria que se manifestar de verdade, algo mais concreto. Chegava a pensar que meus sonhos indicavam bons presságios. Enganei-me. O tempo passava e ambos ficávamos mais impacientes. Em mim, a confusão era mestre. De um lado, o passado insistia em compor o meu presente. De outro, um doce amargo. Mas não me importava, eu já tinha escolhido o lado. Então segui com meus passos.
Um dia especial, uma oportunidade à vista. No segundo em que pensei que subiria ao céu, fui lançada ao inferno. Um frio tomou conta, revirou-me o estômago, subiu e parou na garganta. Mais segundos passaram e eu tentei disfarçar minha falta de ar.
Não sei como agüentei, não sei como, mas o fiz. Minutos eternos, meio sorriso mais falso que nota de 3 reais. Pedi licença ao grupo e me retirei. Com alguma energia do além me arrastei pelas escadas. Parecia complô. Entrei no banheiro e tranquei a porta. Fiquei um tempo, que nem querendo saberia contar, me encarando no espelho. Minha visão ficou embaçada pelas lágrimas e meus olhos começaram a ficar avermelhados. Enxuguei com raiva aquele líquido. Como pude ser tão burra?!
Marchei rumo ao grupo disposta a aparentar que estava tudo bem. Pedi novamente licença e liguei para uma amiga. Estava indisposta (e não a culpo, se quebrei a cara e/ou coração, o problema é unicamente meu!). Fiz outra ligação, buscava alguém que pudesse me levar dali. Voltei e conversinhas, conversinhas, conversinhas...
Ao encostar minha cabeça no travesseiro, fui invadida por mais tristeza. Perguntava-me qual fora meu erro, por que tinha evitado ver a verdade que se evidenciava. Por quê?!
Amanheceu e eu continuava revendo todos os fatos. Cheguei à conclusão de que só tinha um caminho a seguir. Eu iria contra minhas promessas, contra mim mesma se optasse por esse caminho. Relutante, agi contra minha vontade. O tempo é pai de muitas proezas e, à medida que passava, fui cedendo. Permiti ligações, permiti encontros, permiti falsas juras (que já tinha ouvido tantas vezes) até permitir o primeiro roçar de lábios. Fraca o bastante, aceitei outra vez o pedido.
Eu negava estar me destruindo, negava minha fraqueza, negava a vingança, neguei os fatos que queria esquecer. Toda essa farsa era capaz de me justificar alguns instantes, quem sabe horas.
Por mais que tentasse me focar em coisas que ocupavam minha mente, você sempre estava lá. Na mente, em presença. Era comum eu me pegar o observando. Era comum passar toda a história em segundos, só olhando para você. Era comum respirar fundo. Aí você me surpreendia, os olhares se cruzavam e, envergonhada, me odiava por segundos.
Às vezes conversávamos. Eu juraria sentir que a vontade de dar continuação queimava também em você. Logo aparecia o orgulho. E a dúvida. Na sua pista havia a autonegação. Garoto, para que tanta complicação?! Nunca entendi, mas sempre agi em conjunto.
Ninguém sabia nem devia saber que, por vezes, tínhamos longas conversas. Nessas, deixávamos escapar doses da nossa essência, misturada ao sentimento...
Tempo, tempo, tempo. Influenciou. Eu já não sentia mais raiva ou estava chateada. As chamas que ardiam diminuíram consideravelmente. As sensações ficaram tênues.
O sentimento se assemelhava à batida de um relógio. Era quase imperceptível, mas rodava incessantemente. Estando ao seu lado, meu mundo se perdia em silêncio e as batidas se manifestavam com mais força, com mais vontade. Chegavam a ser gritantes. Mudavam o ritmo do meu coração. Os detalhes que eu apreendia me acompanhavam e, seguindo o ritmo dos ponteiros, se insinuavam na minha mente, onde quer que eu estivesse, em qualquer hora do dia, da noite.
Na tentativa de me esvaziar, tentei imprimir no papel o meu caos interior.

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Exercitando a mente.