sábado, 29 de maio de 2010

"(...)
- Você jura?
- Juro. Deixe ver os olhos, Capitu.
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada." Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram.
Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova.
Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.
Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.
Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve.
A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno.
Este outro suplício escapou ao divino Dane; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos cabelos de Capitu, mas então com as mãos, e disse-lhe,- para dizer alguma cousa,- que era capaz de os pentear, se quisesse.
- Você?
- Eu mesmo.
- Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim.
- Se embaraçar, você desembaraça depois.
- Vamos ver.
(...)"
"Dom Casmurro" - Machado de Assis

terça-feira, 18 de maio de 2010

¬¬

É detestável permanecer da mesmice da dúvida. É detestável sentir o que sinto. É detestável sonhar os meus sonhos... É detestável me sentir sem ação frente ao sentimento... Por que isso?!

domingo, 16 de maio de 2010

Pensei em você

Um olhar distante, um outro lugar... Lá onde estávamos juntos... Lá onde eu tentara disfarçar... Os deslizes, os olhares cruzados, ... Me veio a lembrança e eu sorri...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Encontrou refúgio na escuridão dos olhos
Cerrou-os e, a partir dali, é que começaram os sonhos, voluntária ou involuntariamente
Sonhou um sonho utópico
Sentiu a realidade
Sentiu a imaterialidade dos dias
Sentiu a inexatidão, a subjetividade dos gestos e das palavras
Sentiu medo
Alegrou-se
Sorriu
Abriu os olhos: Eis o pesadelo!

sábado, 1 de maio de 2010

Sentiu, analisou, julgou, descartou.
Sentiu, ouviu, analisou, aceitou.
Assim seja.